19 dezembro 2005

A chantagem do costume

Fim de ano. Enquanto a generalidade das pessoas faz as suas últimas compras de Natal, os comerciais fazem as suas últimas vendas. Há quem valorize as qualidades técnicas dos produtos. Há quem valorize a confiança na empresa que representam, a relação, a parceria. E há quem recorra à chantagem do costume. Por esta altura do ano é costume haver algum Instituto ou Ministério que é abordado mais ou menos nestes termos "Sabemos que no seu Ministério há muitos utilizadores ilegais do nosso software. Ou assina um acordo com um novo valor ou lançamos-lhe um processo". Ninguém na Administração Pública portuguesa tem resistido a esta chantagem. E assim os monopolistas vão engrossando os seus lucros, à custo dos contribuintes portugueses, que ignoram esta nova modalidade de fazer negócio - a venda por chantagem.

30 novembro 2005

Standards e manobras de Marketing

Em reposta extremamente rápida à adopção pelo Estado do Massachussets do formato OpenDocument normalizado pelo Oasis, a Microsft anunciou a sua intenção de também submeter o seu formato XML a uma organização de normalização, neste caso o ECMA.

É por um lado um passo positivo, no caminho da abertura do software, e virá no futuro facilitar a importação e exportação de documentos de Microsoft Office por outras suites como o OpenOffice.org.
É também positivo porque revela que a comunidade open-source começa a ter a iniciativa, e a forçar a Microsoft a reagir. Isso já se passou relativamente ao futuro Internet Explorer 7, que é uma resposta ao êxito do Firefox, à tristemente celebre campanha "Get the Facts", uma resposta à cescente adopção do Linux. Tinha também já acontecido com o anúncio de formatos XML e do export para PDF a incluir na próxima edição do MS Office, como resposta ao OpenOffice.org. Repete-se agora face à normalização do OpenDocument. Perder a iniciativa é bastante mau em termos de combate, e isso está a acontecer à Microsoft.

Mas este anúncio é também, ou sobretudo, uma manobra de Marketing para tentar esvaziar a adesão à norma do OpenDocument antes de ela ter tempo de se afirmar. Num guião típicamente microsoftiano, está-se a fazer um anúncio que apenas se concretizará daqui a muitos meses..

O que também já se tornou patente é que face à ofensiva do OpenOffice.org a Microsoft está a tentar enredar o Office no software empresarial, nomeadamente no SharePoint Portal. Por um lado tenta esvaziar a iniciativa do mundo do sftware aberto, por outro tenta levar os clientes empresariais, os que realmente lhe dão dinheiro, para um outro patamar, o das ferramentas colaborativas.

Aqui o mundo do open-source terá também de se afirmar rapidamente.

20 novembro 2005

Fim das renovações automáticas dos contratos de software

Fim das renovações automáticas dos contratos de software
Esta é a segunda medida que poderia contribuir para a transparência e isênção no software. Já foi tomada uma medida semelhante relativamente às comunicações. Pelo menos de três em três anos tem de haver um concurso para as comunicações para que não se eternize a dependência da PT, sem concorrência, apenas por renovações.
Tem de se impor o mesmo princípio no software. Há concorrência nos sistemas operativos, há concorrência no Office, há concorrência no Mail, há concorrência nas bases de dados. Quer em software livre, quer em software proprietário. Já basta de regime de software único !

Ponham os Cadernos de Encargos ONLINE

Ponham os Cadernos de Encargos ONLINE
É uma sugestão dada no Gildot em relação ao meu desabafo sobre a transparência, e é de facto uma das duas medidas que em muito contribuiriam para a transparência. Talvez deixássemos de ver aqueles cadernos que pedem específicamente a marca X ou Y, ou pelo menos, podia-se redireccionar o Caderno imediatamente para o Tribunal de Contas por violação do dever de imparcialidade que está escrito, preto no branco, no Decreto-lei 197/99 que regula as aquisições da Administração Pública.

12 novembro 2005

Transparência

A recente polémica relativamente às eleições, com a tentativa não inocente de manchar reputações de algumas pessoas incómodas, causou-me algumas reflecções.

Na comunidade ligada ao software livre existe uma transparência inusitada, que não é comum no resto da sociedade portuguesa. Ainda bem. O que faz falta é levar essa transparência ao resto da sociedade, que cala demasiadas coisas.

Cala os problemas ligados ao deficiente trabalho de algumas consultoras (ex: quanto tempo a mais levou a implementação do software nos Registos e Notariados ?).
Cala problemas ligados ao software proprietário (ex: só se soube dos problemas de migração do correio da Telepac num programa com pouca visibilidade na TV ).
Cala a utilização dos dinheiros públicos (onde é que posso saber quanto se paga em consultores e em software em cada Ministério ou projecto ?).
Cala o desperdício de dinheiros públicos (quantos projectos sem sucesso há, em que ninguém é responsabilizado) ?
Cala a flagrante ilegalidade de alguns concursos públicos, em que são referidas marcas de produtos, contrariando a lei -197/99, para quem queira saber.
Cala a corrupção existente em algumas aquisições públicas, mesmo quando os rumores são mais que muitos.

A imprensa cala-se por receio de perder anunciantes.
Os fornecedores calam-se por receio de perderem futuros contratos.
Os funcionários públicos calam-se por receio de perderem os empregos.

A corrupção é o mais difícil de denunciar, porque as provas são obviamente escondidas ou inexistentes, e é complicado acusar alguém sem provas.

A questão é a seguinte: quem está na Administração Pública deve-se habituar a prestar contas. Por vezes as questões levantadas poderão ser erros ou insinuações. Nesses casos há que prestar esclarecimentos, como fez o Mário Valente. Noutros casos poderão ser incompetências, ilegalidades ou mesmo corrupção. Não é de esperar esclarecimentos nesses casos , o que não abonará em favor dessas pessoas. Mas talvez leve a investigações, ou a atitudes mais responsáveis.

11 novembro 2005

Open Standards






Implementações de open-source na Europa e Estados Unidos

A ZDNet tem um bom apanhado do estado corrente de vários projectos de implementação de projectos open-source na Europa:
  1. The UK: Confused but enthusiastic
  2. United States: Open source too close to socialism?
  3. France: Liberté, égalité... open source?
  4. Germany: Munich leads the desktop charge
  5. Norway: Fjording the open source rift
  6. Spain: Extraordinary Extremadura
  7. Poland/Eastern Europe: Community equals communism?

Os acorrentados

Conforme se pode ler na Computerworld de 3 de Novembro, o Microsoft Office deixou de ser um produto de produtividade pessoal. Neste momento evoluiu "para um sistema mais abrangente e integrado de programas, servidores e serviços que constituem a base do software Microsoft, assente em funções, integrando capacidades adicionais para a integração de XML (eXtensible Markup Language), serviços de fluxo de trabalho e integração de portais e LOB - Microsoft Office SharePoint Portal Server, Microsoft SQl Server Reporting Services e com a plataforma Microsoft em geral".

Toda esta envolvencia só me faz lembrar aqueles casamentos em que o recém-casado, depois de dar o nó, rapidamente se apercebe que casou não apenas com a apetecível noiva, mas também com a sogra, o sogro, a cunhada, o marido da cunhado, os sobrinhos da cunhada, mais os tios, as tias, e a família da noiva em geral.

A Microsoft, confrontada com o cada vez mais insustentável desafio de ter de justificar aos clientes o pagamento de milhares ou milhões de Euros por uma plataforma de software para a qual existem alternativas gratuitas perfeitamente adequadas, como o OpenOffice.org, resolveu entretecer o Microsoft Office com "a plataforma Microsoft em geral". Os clientes são progressivamente acorrentados (sem aspas) numa cadeia de software que liga aplicações umas às outras, e das quais não se conseguem escapar.

Já são vários os responsáveis de sistemas de informação a quem ouvi referir a falta de coragem para se envolverem numa migração para fora da "plataforma Microsoft em geral". Desejam não gastar dinheiro sem razão na plataforma de office, e sabem que há uma alternativa real e viável. Mas sabem que irão ter muito trabalho pela frente para desfazer este novelo da "plataforma Microsoft em geral".

Estão, ou sentem-se, acorrentados..

01 novembro 2005

Anos perdidos na Saúde

A mais desassombrada análise do que se tem passado na informática na saúde pode ser encontrada na apresentação efectuada por uma das pessoas que no IGIF mais contribuiu para o desenvolvimento para a sociedade da informação na saúde.
O IGIF - Instituto de Gestão Informática e Financeira da Saúde - desenvolveu as principais aplicações para a gestão hospitalar, mas nos últimos anos tem estagnado por falta de investimento.

Algumas das razões são apontadas nesta apresentação imperdível efectuada nas Jornadas de Saúde promovidas pela publicação Interface Saúde, que analiza os últimos 15 anos na informática da saúde:

1) Conflitos entre interesses privados e públicos
"O pelouro do IGIF para a área das TIC é gerido por gestores vindos da privada, oriundos de empresas com interesses na Saúde (...) – desde o último semestre de 2001 até à data.

Praticamente, tudo, é posto em causa;
Em finais de 2001 é solicitado um estudo estratégico a uma empresa privada – é entregue durante o 1º trimestre de 2002;
Em finais de 2003 é solicitado um estudo estratégico a uma empresa privada e, no início de 2004, e é efectuado um esclarecimento a nível
Nacional (...);
Último trimestre de 2005, está a decorrer um concurso para mais um estudo na área das estratégias (...);"

2) Desinvestimento tecnológico- onde está o Plano tecnológico ?
"Há produtos desenvolvidos “dentro de portas”, a funcionar em algumas instituições onde, além da boa receptividade que têm por parte dos profissionais de saúde, já demonstraram ter capacidade para obter resultados de curto prazo nas áreas consideradas prioritárias pelo
actual governo, designadamente:
- Prescrição Electrónica de Medicamentos ... Receita Electrónica (C.F);
- Prescrição Electrónica de Baixas (CIT) e ligação à Seg. Social;
- Prescrição Electrónica de MCDT’s para os convencionados (C.F.);
- Articulação de cuidados hospitalares e CSP.

Numa base de seriedade, competência, isenção e defesa dos interesses do Estado, requisitos que os contribuintes, beneficiários do SNS e profissionais de saúde, exigem aos responsáveis pelas TIC da Saúde, confesso que tenho dificuldade em perceber certas decisões, como por exemplo, a de não incentivar e apoiar as instituições de saúde a instalar estes produtos (está a
ser feito exactamente o oposto !!) - a maior parte dos investimentos em tempo e dinheiro, já foram efectuados e, além do mais, se esta decisão fosse tomada, daria mais margem de manobra para o desenvolvimento de novos projectos.

Em minha opinião, a actualização tecnológica de alguns sistemas de informação, ou o desenvolvimento de novos sistemas, ou os estudos estratégicos que estejam a ser efectuados, ou mesmo, as transformações que se pretendem fazer no IGIF, não justificam este tipo de decisões - com estes ou outros motivos, este é o cenário que temos vindo a assistir nos últimos 2 a 3 anos ... “morte lenta”

Sera bom que esta intervençao frontal levante o debate sobre o que se passa na informatica na saude. A abertura da nossa sociedade assim o exige, que os decisores da Administraçao Publica prestem contas ao publico do que andam a fazer.

Open Document Format e a imprensa

Ainda não consegui ver nada na imprensa especializada e muito menos na imprensa generalista sobre o formato OpenDocument, um standard de formatação de documentos aprovado pela organização Oasis a 1 de Maio de 2005.

Este formato já foi adoptado formalmente ou informalmente (ou seja, através de produtos que o suportam, como o OpenOffice.org, StarOffice ou, de um modo geral, Linux) por inúmeras cidades europeias, como Munique, Viena, Bergen; por departamentos de Estado, como a Polícia Francesa, o Ministério da Defesa de Singapura, as finanças alemãs, o estado de Massachussets, a Junta da Extremadura ou o Ministério da Justiça em Portugal; por países inteiros, como a Tailândia, Venezuela ou a Indonésia.

A imprensa informática portuguesa sofre de faltas de recursos, e portanto apoia-se muito nas contribuições de empresas do ramo, na forma de press-releases, conferências de imprensa e viagens a eventos internacionais. Mas num mundo em que o software de código aberto é cada vez mais importante, é chegada a altura de arranjarem tempo para noticiar o que se passa nessa área. Talvez precisem que alguém lhes começe a enviar as press-releases do Gnome, KDE e OpenOffice.org, por exemplo..

Abre-te Software

Porquê um blogue entitulado abre-te software? Porque a sociedade portuguesa necessita como do pão para a boca de um maior abertura, de uma maior frontalidade, de mais colaboração. Que cada um contribua como possa. Vou tentar, pela minha parte, contribuir para esses objectivos na área da sociedade da informação, e colaborar para desfazer os unanimismos, o silenciar de problemas, e estimular a diversidade, a originalidade e a colaboração que são os ingredientes de uma sociedade inovadora.