24 fevereiro 2006

A imprensa informática e o software livre

Tenho pensado amíude sobre que volta dar sobre a informação relativa ao software livre na imprensa informática portuguesa. Ou melhor, a falta de informação. As notícias são extremamente raras, em contraste com o grande dinamismo de todos os projectos, como o Mozilla, o Gnome, o KDE, o Ubuntu, etc. Poucos jornalistas fazem investigação, muitos orgãos limitam-se a publicar press-releases e a noticiar os eventos para os quais são convidados.
Vamos ter que ajudá-los e começar-lhes a enviar press-releases. Vamos ter estimular a ANSOL, ou criar uma Comunidade de Marketing de Software Livre.

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OpenOffice.org duplamente mais rápido

Michael Meeks, um dos principais contribuidores para o Openoffice.org, foi entrevistado durante o recente FOSDEM (Free and Open source Software Developers' European Meeting) em Bruxelas. Durante essa entrevista revela que há bastante trabalho em curso para tornar o OpenOffice.org mais rápido no arranque e na abertura de documentos.

Outra novidade é que não vamos ter de esperar mais 2 anos para um OOo 3. A partir de agora haverão novas versões com novas características pelo menos de 6 em 6 meses.

Este acelerar do OOo tem a ver com uma das forças do open-source. Enquanto que produtos comerciais têm um ciclo cada vez mais longo, os produtos de software livre estão a evoluir para um acumular sustentado de mudanças regulares, o que lhes permitirá a médio prazo ultrapassar a concorrência.

16 fevereiro 2006

MIT e o Open Source

Talvez ganhemos mais do que esperamos se o M.I.T. sempre se estabelecer em Portugal.
Acabei de ver o tema do MIT Enterprise Forum 2006 Workshop: "Charting the Course Through Open Source"

Citando a introdução à workshop:
"Open source software is one of the major factors that will define the software industry in this decade. Until just a few years ago, open source was viewed as an emerging phenomenon.

Today, open source code is widely used by even the most traditional organizations. Young entrepreneurs and software engineers look to open source projects as a wellspring of innovation, with the potential to significantly accelerate time to market."

Pode ser que nos ajude a abrir os olhos..Não sei porquê, mas em Portugal parece que gostamos de pensar por outras cabeças em vez de usar as nossas..

José Magalhães e a polícia à francesa

José Magalhães, o Secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna, escreveu bastante sobre internet no passado. Tinha até um blog, desabitado desde 28 de Agosto de 2004.

É pena, porque poder-lhe-ia referir o exemplo da polícia francesa, que para o ciber acesso (para usar termos que lhe são caros) passou a utilizar o Mozilla Firefox. Por este browser já passam 18 % dos acessos à Net em França.

E falando com os seus colegas franceses, ele não lhe deixaria de referir as poupanças que poderia ter se passasse a utilizar OpenOffice.org nas esquadras portuguesas. Em França calcularam-nas em 2 milhões de Euros anuais numa migração de 80.000 postos.
Provavelmente em Portugal também representaria umas poupanças interessantes.

E finalmente, para uma pessoa com formação legal como ele, não deixaria de lhe recomendar o excelente Groklaw, que mistura open-source com temas legais. De certeza que o acharia interessante.

Talvez alguém lhe mostre isto.

07 fevereiro 2006

O que realmente interessa - mais organização

Sejamos francos, em Portugal não existe uma comunidade open-source. Existem várias comunidades, que ora cooperam ora se ignoram. Existem muitas pessoas que utilizam software livre, mas não sabem como podem ajudar. Existem também várias pessoas em empresas e administração pública que sem muito alarde vão implementado soluções de software livre. Ainda hoje tomei conhecimento de mais uma, abrangendo 1.000 utilizadores.

Precisamos de mais organização. Precisamos de cooperação entre as várias comunidades, de forma a reforçarem-se umas às outras. Precisamos de um meio de proporcionar a quem quer ajudar um meio de o fazer -e nem todos precisam de ser programadores. Precisamos de publicitar mais o que se vai fazendo, e é cada vez mais.

Estamos, todos os que utilizamos software livre em Portugal, a usufruir do trabalho que outros resolveram partilhar conosco. Esse é cada vez mais um trabalho colectivo e organizado. Precisamos de o fazer melhor. De divulgar a existência do software livre. De ajudar quem quer experimentar. De publicitar quem o usa.

Precisamos de definir acções comuns. Começo com um primeiro apelo: a criação de um Arquipélago de Sites. Os seja, que o gildot, a ANSOL, o Paradigma e o seu Laboratório para a Iniciativa do Software Aberto, a Caixa Mágica, o Projecto Português do Openoffice.org, o Startux.org, o PTNIX, o Fedora Portugal, o Mozilla pt-PT, SoftwareLivre na AP, o Software Livre na FEUP, o Planeta Asterisco, o alphamatrix.org, o GNU/Linux-[PT], o Slackware-PT, o Software Livre no SAPO, o Ubuntu-PT ,o Alinex, se comecem a referenciar mais. De certeza que me estou a esquecer de alguns. E de certeza absoluta que não conheço todos.

É apenas um começo.

Cumprimentos especiais ao alphamatrix.org, que tem as referências mais completas.

05 fevereiro 2006

O que realmente interessa - mais inovação

O Firefox demonstrou que uma combinação de facilidade de utilização com inovação e com marketing atraz os utilizadores. É necessário levar esse exemplo aos outros projectos open-source. Acredito que o modelo de desenvolvimento cooperativo do open-source fará com que gradualmente a inovação aconteça sobretudo dese modo, e não via software proprietário. Apesar do que vamos sofrer durante os próximos dois anos , com a barragem de Markting que aparecerá com o lançamento do Windows Vista e do Office 12. Vamos ter de aguentar, e continuar a inovar. Ao contrário da Microsoft, o software open-source evolui contínuamente. Depois do Vista e do Office 12 vamos ter tempo para recuperar, pois a MS funciona por ciclos cada vez mais longos. Há que ter uma visão à distância.

Mas voltando à inovação. Conhecem o projecto Looking Glass? Interfaces 3D? Vai muito para além do que o Vista terá. Viram a apresentação da utilização do XGL na próximo Novell Linux Desktop por Nat Friedman? Neste momento é muito cópia do OSX, mas é apenas o primeiro passo do que pode ser consguido com XGL.

É por isso, por projectos como estes, que estou confiante.

04 fevereiro 2006

O que realmente interessa - mais software

O que é que realmente mais interessa para a adopção do Linux? Aplicações, Drivers para hardware e Marketing :-)
No que diz respeito ao Software, a Novel fez um inquérito às aplicações "mais procuradas" no Linux, e surgiu com esta lista:

1. Photoshop
2. Autocad
3. Dreamweaver
4. iTunes
5. Macromedia Studio
6. Flash
7. Quicken
8. Visio
9. Quickbooks
10. Lotus Notes

A Novell diz que vai agora trabalhar para conseguir que os fornecedores deste software o portem para Linux:

Não irão conseguir com todos, mas seria bom que o conseguissem com alguns.

Quem defenda o Software Livre com mais rigidez dirá que isso não interessa para nada, o que interessa é desenvolver as alternativas livres a estes programas. Têm em parte razão, é mesmo necessário que isso aconteça. Mas também é importante que para acelerar a adopção do Linux este software exista em Linux. Isso pode ajudar a convencer cada vez mais pessoas a mudar para Linux no Desktop. E depois de estarem do lá de cá, e de perceberem a filosofia do desenvolvimento colaborativo, até podem ajudar a desenvolver as alternativas livres a estes programas.

Esta é uma luta desigual. Aliados são bem-vindos.

Cartas ao Director

Há neste momento assuntos muito mais importantes para discutir em Portugal que a visita de Bill Gates e a Microsoft. Para encerrar o assunto neste blog transcrevo uma carta ao jornal Público que achei extremamente bem feita. Cumprimentos ao autor.

Portugal e a Microsoft
A recente visita de Bill Gates a Portugal foi apresentada pelo Governo e pela comunicação social como um acontecimento relevante. A presença do "homem mais rico do mundo" foi uma oportunidade para os nossos governantes se mostrarem verdadeiramente empenhados em promover o desenvolvimento tecnológico de Portugal e disso foi dada cobertura alargada nos jornais e noticiários. Efectivamente, a Microsoft é hoje a mais importante empresa de software a nível mundial e Bill Gates, o seu líder, um empresário brilhante. Sendo estes factos indiscutíveis, não nos podemos esquecer que Bill Gates, como empresário que é, procura promover e vender os produtos da sua empresa. E é por isso que ao analisarmos a visita de Bill Gates não nos podemos esquecer de referir os custos que a utilização de produtos Microsoft têm hoje para a nossa economia.
O Windows e o Office, os dois produtos mais populares da empresa de Bill Gates, estão presentes em praticamente todos os computadores pessoais portugueses. Para o utilizador comum, o custo da instalação do Windows e do Office no seu PC é, se não estiver a infringir a lei, superior a 700 euros (140 contos). Se em vez das versões mais baratas destes produtos optar por usar as versões profissionais, pagará perto de 1300 euros (260 contos). Multipliquemos estes valores pelo número de computadores pessoais existentes em Portugal e será fácil percebermos que os montantes que saem do nosso país em direcção à sede da Microsoft nos Estados Unidos são tudo menos negligenciáveis. Se adicionarmos a esta factura os custos do software empresarial vendido pela Microsoft, podemos ter uma noção da gravidade que a situação representa para um país com poucos recursos como Portugal.
Num período em que tanto se fala do défice e da situação complicada que a nossa economia atravessa, espera-se de um governo responsável que procure e promova alternativas menos dispendiosas. Em vez disso, assistimos ao anúncio de que foram estabelecidos acordos com a Microsoft para acções de formação de "1 milhão de portugueses". Tudo indica que uma parte importante do valor a gastar nesta formação será proveniente do Orçamento do Estado. O Governo pode ter a melhor das intenções mas gasta o dinheiro dos contribuintes a promover a utilização de produtos que deveria estar a tentar substituir.
Ao contrário do que muitas vezes se pode pensar, existem alternativas aos produtos da Microsoft. Os computadores podem funcionar sem o Windows, que pode ser substituído, por exemplo, por software open source. O software open source, como o Linux, Firefox, OpenOffice ou Apache, pode ser utilizado gratuitamente por qualquer indivíduo ou empresa. Mais importante do que isso, o software open source pode ser alterado para criar novos produtos sem que isso implique o pagamento de licenças dispendiosas à Microsoft ou a outro fornecedor de software. Por esse motivo, os produtos open source representam uma importante oportunidade de negócio para as empresas de tecnologia.
O interesse do Governo em promover o desenvolvimento tecnológico de Portugal é genuíno, mas para que esse objectivo se concretize os nossos governantes têm de estar bem informados sobre os possíveis caminhos a seguir sem se deixarem impressionar por terem diante de si o "homem mais rico do mundo".

Jorge Gomes Silva
Mem Martins

03 fevereiro 2006

No comments

Desculpem, não consegui resistir..

02 fevereiro 2006

Lucidez e Honestidade

Constrastando com a canonização da Microsoft feita por vários comentadores e governantes nos últimos dias tive o prazer de ouvir um comentário lúcido e honesto a estes planos conjuntos do Governo e da citada empresa.

Citando o Público:
" O que é a que a firma de Bill Gates tem então a ganhar com este programa ? João Paulo Girbal respondeu com uma analogia. Se a Microsoft fabricasse carros "e só houvesse dez pessoas em Portugal com carta de condução", a firma não faria grande negócio. Ao aumentar o número de portugueses com conhecimentos das tecnologias de informação, a Microsoft está a aumentar o seu mercado. O nosso sucesso está ligado ao número de pessoas que podem aceder às nossas tecnologias", disse Girbal"

Falta apenas acrescentar que ainda segundo declarações de outro dirigente da mesma empresa ao Público, "Um dólar (82 cêntimos de euro) é o custo que a Microsoft irá suportar por cada utilizador português destes "cursos de informática". A Microsoft vai pois investir em 5 anos um total de 820.000 Euros em formação. Pressupõe-se que o grosso do Investimento nestas acções pensadas para alargar o mercado da Microsoft em Portugal venha do outro parceiro - o Estado Português.

01 fevereiro 2006

Algumas perguntas ao Governo - ou porque Bill Gates é o homem mais rico do mundo

Há várias questões que surgem a quem ouve a catadupa de anúncios de acordos e protocolos assinados por Bill Gates em Portugal. Gostava mesmo de ter algumas respostas a estas interrogações..

1- Microsoft quer formar 1 milhão de portugueses
Depois de se ler a notícia fica-se a saber que a Microsoft só vai formar formadores, e não os destinatários finais. Quantos serão estes formadores? Quem vai pagar a estes formadores durante a sua maratona de formação?

2- Microsoft quer formar 1 milhão de portugueses
A versão mais barata do Microsoft Office custa 660 Euros (há uma mais barata, mas é apenas para estudantes e professores - 215 Euros). Como consequência da formação de 1 milhão de portugueses de Microft Office, e se desta formação resultar a aquisição deste software, a Microsoft irá ganhar 660 milhões de Euros. Parece ser um bom investimento. Alguém fez estas contas ?

3-Serviços de Estrangeiros e Fronteiras e GNR serão as forças de segurança abrangidas por um conjunto de acções de formação
Estas acções de formação são gratuitas? Se não, houve consultas ao mercado? Quantas mais licenças Microsoft vai o MAI ter de comprar ?

4-Criação de estágios nas 4600 empresas do universo Microsoft
Estes estágios não são financiados pelo Governo Português? E é a Microsoft que fica com o crédito? E estas 4600 empresas só vendem produtos da Microsoft ?
E é a Microsoft que fica com o crédito?

5-A Microsoft vai fornecer à Polícia Judiciária (PJ) equipamento informático de luta contra o cibercrime
A Microsoft de hardware não vende só ratos e teclados ? E o software e os serviços são contratados por protocolo, sem concurso público? O Tribunal de Contas sabe disto ?
E o software da Microsoft, tão susceptível a vírus e Spyware, será o melhor para a Polícia Judiciária?

6- O ministro dos Negócios Estrangeiros, Freitas do Amaral, anunciou que está a negociar com a Microsoft um protocolo com vista à modernização de todo o sistema informático do Ministério
Um protocolo? Não vai haver concurso público ? É isto a promoção da competitividade ?

7-As Universidades do Minho, de Aveiro e da Beira Interior, disponibilizarão cursos de especialização em Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) para jovens com o 12.º ano. O projecto prevê que todos os professores envolvidos recebam formação e material escolar directamente da Microsoft através do seu programa IT Academy.

Estas Universidades vão ter a professores pagos por todos nós a dar formação de produtos de uma firma privada ? Parece ser um bom negócio para a Microsoft e um mau negócio para o erário público. Está-me a escapar alguma coisa ?