29 dezembro 2007

Economist: tudo o que é relacionado com computadores vai-se abrir em 2008

A revista britânica Economist sempre foi a minha preferida, pelas suas análises inteligentes, pelo seu humor, por abordarem temas e assuntos ignoradas por outras. Com algumas discordâncias à mistura, como o apoio à invasão do Iraque. Mas chamando a atenção muitas vezes com grande antecedência para acontecimentos que depois se comprovam, como o rebentar da bolha dot.com e a actual turbulência nos mercados financeiros devido à queda de preços das casas nos Estados Unidos e Grã-Bretanha.

De forma que fico satisfeito de a ver a fazer previsões tecnológicas para 2008 que vão ao encontro do tema principal deste blog - Abre-te Software: "Surfing - and everything else computer related - will open".

Deixo só aqui, nestes dias de festa e gula, apenas os bocados mais saborosos:

"(Ubuntu Linux) é agora mais simples de instalar e configurar do que Windows. Foi posto muito trabalho em tornar os gráficos, e especialmente os tipos de letra, tão intuitivos e atraentes como os do Mac"

"Tal como outras edições de Linux, Ubuntu trabalha perfeitamente bem em máquinas menos potentes que não podereriam aspirar a funcionar com Windows XP, quanto mais com Vista Home Edition ou o OSX da Apple"

"Quando as empresas estão habituadas a comprar PCs com Vista Business Edition por 1000 dólares e a instalar-lhes uma cópia de 200 dólares do Microsoft Office, torna-se muito grande a atração de um computador com custo inferior a 500 dólares utilizando um sistema operativo gratuito como o Linux e uma aplicação de produtividade pessoal como o OpenOffice.

E isto sem contar com os 20.000 dólares ou mais necessários para o software Exchange e SharePoint da Microsoft. Mais uma vez, existem alternativas gratuitas a este software de servidores."

O Economist aborda também o tema da abertura do espectro feito vago pela TV Digital, paro o que também convido à leitura.

26 dezembro 2007

Crenças

A série de comentários que tenho visto no meu blog e no do Marcos Santos leva-me a a pensar que às vezes o debate é realmente de surdos. Torna-se às vezes um debate de crenças, em que os factos dos adversários que contrariam o outro são ignorados, ou considerados menos importantes. Porque a crença de que temos razão nos obscurece a mente.

Eu falo da Noruega, da Bélgica, da Holanda. O Marcos fala da Dinamarca, dos Estados Unidos. Cada um de nós pode citar exemplos a favor daquilo que acredita. E às tantas já não se estão a discutir factos, montanhas de factos. Estão-se a discutir crenças. E os argumentos são irrelevantes quando se discutem crenças, como todos sabemos.

É de esperar que um funcionário de uma empresa a defenda, ou pelo menos que não a ataque. Ou que dela saia, se se tornar realmente crítico da sua actuação.
Eu tenho a felicidade de trabalhar numa empresa com cuja ética e linhas de actuação concordo, o que me dá conforto, e que me faz querer continuar por lá. As minhas ideias não vêm do sítio onde trabalho, pelo contrário, trabalho num sítio onde as minhas ideias não só não são violentadas, mas são até valorizadas.
Posso pensar que o Marcos Santos se identifique com a sua empresa no sentido em que é a "maior empresa de software do mundo", o que o deve encher de orgulho. E que até faz algum software de qualidade (nem todo..). Tem de varrer para algum canto da consciência alguma falta de ética que é constantemente denunciada em relação à empresa dele. Pode dizer que são só algumas ovelhas negras, ou que "eram outros tempos", ou que todas as empresas ambicionam ser monopolistas, a Microsoft é apenas invejada porque o conseguiu. E continuar a olhar para o "bom software" que a Microsoft produz.

Pois é, eu não me consigo ver a trabalhar numa empresa que valoriza a eliminação sistemática dos concorrentes, que faz campanhas "Get the Facts" cheias de FUD, a denegrir o que eu defendo, a denegrir os produtos derivados de um espírito colaborativo de trabalho, em que há competição pelo mérito, e cooperação sempre que possível, e sempre, sempre, transparência no que se faz.

Vejo nestas discussões as crenças e os preconceitos sobreporem-se à razão. Vejo atacarem-se irrealistas cenários futuros (monopólios 2.0..) , e fecharem-se os olhos aos monopólios existentes, à tirania das decisões tomadas em contactos a alto nível com os deslumbrados com o homem mais rico do mundo.

As minhas crenças não são as de que quem é mais poderoso tem razão. As minhas crenças são de que a razão e a verdade triunfam, contra a inquisição, contra o nazismo, contra a tentativa de esconder as verdades científicas porque contrariam a religião ou os interesses económicos.

Mais terra a terra, as minhas crenças são na liberdade de escolha, e no mérito. São valores que permeiam a cultura do software livre. São valores que entram em conflito com os negócios feitos nos gabinetes, com as trocas de favores entre pessoas influentes.

As minhas crenças não me fazer pensar que todo o software livre é bom. Há bom, e há mau. Mas o mau melhora-se, ou dá origem a projectos alternativos.
O software livre não estagna, porque há sempre quem queira fazer melhor, e novos projectos tomam o lugar dos que chegarm a becos sem saída. Como na evolução. O Internet Explorer parou no tempo quando se tornou "o que toda a gente usava", e só recomeçou a melhorar quando surgiu o browser Opera e depois o Firefox com melhorias tão gritantes que as pessoas deixaram de usar "a norma". O Microsoft Office parou no tempo, e só deu uma grande volta quando o OpenOffice.org surgiu nos relatórios da Microssoft como uma ameaça aos seus lucros.

A minha crença é que o software proprietário conduz à estagnação assim que o monopólio é atingido. Que a súbita conversão da Microsoft às normas abertas desaparecerá assim que consiga afastar a ameça de formatos que não controla.

A minha crença é na evolução técnica, na troca e partilha de ideias, na discussão aberta, nos produtos e normas abertas.

Qual é a vossa crença?

E a Noruega também!

O governo da Noruega emitiu uma "press release" no passado dia 19 de Dezembro na qual a Ministra da Renovação da Administração, Heidi Grande Røys, declara que toda a informação nos sítios web da administração pública deverá estar nos formatos abertos HTML, PDF ou ODF a partir de 2009. "Chegou o fim do tempo em que apenas estavam disponíveis formatos Microsoft Word", declarou a ministra.

De acordo coma nota de imprensa a utilização de ODF (ISO/IEC 26300) para documentos editáveis que se descarreguem da Internet será mandatória para todas as entidades da administração pública a partir de 1 de Janeiuro de 2009.
Mais tarde todas as agências da administração pública deverão utilizar formatos abertos na troca de documentos entre si e com o público. O sector público deverá converter todos os documentos em formato proprietário para formatos abertos até 2014, declarou a Ministra.

"Este governo decidiu que o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação na administração pública será baseado em formatos abertos. No futuro não aceitaremos que os utilizadores de informação pública sejam aprisionados a formatos fechados por entidades públicas", declarou a ministra" Grande Røys.

Press release original (em noruguês) ...


Ok, e também em inglês..

14 dezembro 2007

ODF adoptado na Holanda ! Open-source recomendado!

O parlamento dos Países Baixos (vulgo Holanda) acaba de aprovar o plano de Open Source e Open Standards. A partir de 1 de Abril de 2008 todos os documentos trocados com a Administração Pública deverá estar no no formato ODF (Open Document Format).

Também foi aprovado que o software open-source é preferencial, e que em igualdade de circunstâncias deve ser escolhido em vez de software proprietário.

Notícia em holandês aqui

Tentativa de tradução (aceitam-se melhoramentos):

Parlamento aprova Plano de Acção sobre Normas Abertas

Quarta-feira, 12 de Dezembro de 2007 - A Câmara baixa do Parlamemto aprovou o plano para normas abertas e software open-source na administração pública. Há mesmo uma "btigada De Normas Abertas e uma "hotline" pública.

Debaixo de uma avalanche de comprimentos, novas promessas e algumas poucas críticas foi aprovado pela câmara baixa do Parlamento o plano de acção "Os Países Baixos em ligação aberta". Adoptando a política dos Ministérios do Interior e dos Assuntos Económicos, a Administração Pública Central irá requerer Normas Abertas a partir da primavera de 2008, e dará primazia ao software open-source. Estas normas serão alargadas à Administração Pública Local a partir do final de 2008.

Citações

O Secretário para e Imprensa da Câmara Baixa, Frank Heemskerk, referiu que esta é uma inicativa que se arrastava desde a Moção Vendrik, há 5 anos atrás.
Martijn van Dam, do partido PvdA, declarou: "Estou incrivelmente feliz. E a melhor recomendação para este plano foi a tempestade de críticas que a Microsoft tentou criar". Gerkens: "Exactamente. Termos um monopolista a queixar-se que este plano ameaça a concorrência e as forças do mercado é a suprema ironia".

A implementação de normas abertas é mandatória neste plano. Todas os organismos devem participar, em princípio. Possíveis excepções devem ser justificadas e descontinuadas quando possível. Este é o princípio de "Implemente ou Explique".

A utilização de software open-source no governo não é tão obrigatória. Em igualdade de circuntâncias a preferência deve ser dada ao software open-source. Em aplicações desenvolvidas para a administração pública deve imperar o princípio de que a administração pública deve ficar na posse da propriedade intelectual do software que adquirir. Segundo Heemskerk: "Esta regra já existe, mas é frequentemente esquecida. Agora são dadas instruções mais precisas"

Implementação

A implementação de normas abertas na Administração Pública só atraiu louvores no Parlamento. Mas os partidos CDA e VVD tinham algumas reservas sobre a componente open-source, particularmente sobre o alegado efeito negativo na indústria das Teconoligas de Informação e Comunicação.

Foram levantadas alguma questões relativamente à implementação do plano. Há que considerar os orçamentos de TIC, nomeadamento os da Administração Pública Local.

Brigada e hotline

O deputado Martijn van Dam do PvdA sugeriu a criação de uma "Brigada das Normas Abertas" e um "Hotline dos Normas Fechadas". Esta brigada seria semelhante à "Brigada Kafka" que combateu a burocracia em excesso. A "Hotline das Normas Fechadas" permitiria que cada cidadão se pudesse queixar sobre a utilização desnecessárias de normas fechadas.

Locomotiva

"Este era um bom plano e ficou ainda melhor agora" declarou a deputada Arda Gerken do SP. Femke Halsema, líder do partido "Os Verdes, declarou "Raramente tenho assistido a um consenso tão alargado"

"Os Países Baixos estão na vanguarda com esta iniciativa. Criou-se um grande interesse no estrangeiro. E está publicada em formato ODF" declarou Heemskerk à Webworld.

Uma empresa como as outras?

Conheço muita gente a trabalhar na Microsoft em Portugal, e na maioria dos casos não tenho de negativo a dizer sobre eles. Há bons profissionais a trabalhar lá.

Mas de vez em quando saltam-nos notícias que desmentem a afirmação comum que me fazem de que aquela é "uma empresa como as outras". As descrições do Rui Seabra das manobras documentadas para abafar a concorrência com expedientes pouco éticos, e a falta de ética demonstrada na tentativa de fazer aprovar uma proposta de norma cheia de incorrecções e lacunas deixam-nos de facto a pensar.

Se têm tanta confiança no seu software porquê tantas manobras? Porque não se tentam evidenciar apenas pelas qualidades? Será que não acreditam no que fazem?