04 fevereiro 2006

Cartas ao Director

Há neste momento assuntos muito mais importantes para discutir em Portugal que a visita de Bill Gates e a Microsoft. Para encerrar o assunto neste blog transcrevo uma carta ao jornal Público que achei extremamente bem feita. Cumprimentos ao autor.

Portugal e a Microsoft
A recente visita de Bill Gates a Portugal foi apresentada pelo Governo e pela comunicação social como um acontecimento relevante. A presença do "homem mais rico do mundo" foi uma oportunidade para os nossos governantes se mostrarem verdadeiramente empenhados em promover o desenvolvimento tecnológico de Portugal e disso foi dada cobertura alargada nos jornais e noticiários. Efectivamente, a Microsoft é hoje a mais importante empresa de software a nível mundial e Bill Gates, o seu líder, um empresário brilhante. Sendo estes factos indiscutíveis, não nos podemos esquecer que Bill Gates, como empresário que é, procura promover e vender os produtos da sua empresa. E é por isso que ao analisarmos a visita de Bill Gates não nos podemos esquecer de referir os custos que a utilização de produtos Microsoft têm hoje para a nossa economia.
O Windows e o Office, os dois produtos mais populares da empresa de Bill Gates, estão presentes em praticamente todos os computadores pessoais portugueses. Para o utilizador comum, o custo da instalação do Windows e do Office no seu PC é, se não estiver a infringir a lei, superior a 700 euros (140 contos). Se em vez das versões mais baratas destes produtos optar por usar as versões profissionais, pagará perto de 1300 euros (260 contos). Multipliquemos estes valores pelo número de computadores pessoais existentes em Portugal e será fácil percebermos que os montantes que saem do nosso país em direcção à sede da Microsoft nos Estados Unidos são tudo menos negligenciáveis. Se adicionarmos a esta factura os custos do software empresarial vendido pela Microsoft, podemos ter uma noção da gravidade que a situação representa para um país com poucos recursos como Portugal.
Num período em que tanto se fala do défice e da situação complicada que a nossa economia atravessa, espera-se de um governo responsável que procure e promova alternativas menos dispendiosas. Em vez disso, assistimos ao anúncio de que foram estabelecidos acordos com a Microsoft para acções de formação de "1 milhão de portugueses". Tudo indica que uma parte importante do valor a gastar nesta formação será proveniente do Orçamento do Estado. O Governo pode ter a melhor das intenções mas gasta o dinheiro dos contribuintes a promover a utilização de produtos que deveria estar a tentar substituir.
Ao contrário do que muitas vezes se pode pensar, existem alternativas aos produtos da Microsoft. Os computadores podem funcionar sem o Windows, que pode ser substituído, por exemplo, por software open source. O software open source, como o Linux, Firefox, OpenOffice ou Apache, pode ser utilizado gratuitamente por qualquer indivíduo ou empresa. Mais importante do que isso, o software open source pode ser alterado para criar novos produtos sem que isso implique o pagamento de licenças dispendiosas à Microsoft ou a outro fornecedor de software. Por esse motivo, os produtos open source representam uma importante oportunidade de negócio para as empresas de tecnologia.
O interesse do Governo em promover o desenvolvimento tecnológico de Portugal é genuíno, mas para que esse objectivo se concretize os nossos governantes têm de estar bem informados sobre os possíveis caminhos a seguir sem se deixarem impressionar por terem diante de si o "homem mais rico do mundo".

Jorge Gomes Silva
Mem Martins

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